Memória- Altino João de Barros vai fazer falta, não só à propaganda e ao turismo. É amplamente conhecida a contribuição de Altino João de Barros à propaganda brasileira. Seus feitos ficarão na história!



Por Aristides de La Plata Cury*

Quero aqui registrar um lado do Altino que não é tão famoso, sua participação decisiva no desenvolvimento do turismo, por meio do São Paulo Convention & Visitors Bureau, onde atuou como presidente, diretor e vice-presidente, atualmente denominado Visite São Paulo, uma fundação de direito privado, Fundação 25 de Janeiro, sem fins lucrativos, responsável pela atração de turistas e visitantes, mormente por meio da captação de eventos.

Altino foi um dos primeiros a perceber que a constituição da Fundação 25 de Janeiro, em novembro de 1983, está fundamentada em dois argumentos: primeiro, embora não seja filantrópica, os benefícios sociais advindos do sucesso da empreitada são consideráveis. Afinal, uma cidade que se aprimora a bem receber visitantes, torna-se ainda melhor para quem nela reside. E segundo, embora o patrimônio próprio da instituição seja muito pequeno, o resultado de seu trabalho, ao fim e ao cabo, movimenta a capacidade instalada da cidade.
Cabe lembrar que o visitante no destino conjuga os verbos dormir, comer, comprar e visitar. E que, ao conjugá-los, o turista se desloca pela cidade, experimenta os serviços públicos e privados de transporte e mobilidade urbana, avalia aspectos ligados à segurança, sinalização e limpeza, entre outros. Trava contatos com a população e acaba por se misturar com ela. Por decorrência, impacta o patrimônio da cidade.  
Tal fundamentação é moderna ainda hoje, imagine na década de 1980, quando Altino, vice-presidente da McCann Erickson, ingressou na diretoria do Visite São Paulo, pelas mãos de João Dória, então seu presidente.
Altino viabilizou a articulação entre trade publicitário e turístico, com sucesso, em diversas ocasiões, mas atingiu o ponto alto no projeto de abertura do Comércio aos domingos, prioritário dada a sua implicação na demanda de turistas para os fins de semana na cidade de São Paulo.]
No início dos anos de 1990, não havia consenso de que abrir o comércio aos domingos seria um bom negócio 
A estratégia encontrada pelo Visite São Paulo, sob coordenação de seu diretor Raul Souza Sulzbacher, consistiu na autorização preliminar, da abertura do comércio, em princípio, apenas nos domingos que antecediam às datas notáveis, dia das mães, dos pais, natal, etc.
A solução passava por envolver a população e tornar inquestionáveis as vantagens da liberação de todos os domingos, Como? Quem conhece o Altino, sabe que em situações complexas como essa, ele usava a expressão “Vamos usar o bundinhas”, brincando com o personagem alemão do Jô Soares.
Altino desenhou o projeto. Os shopping centers arcavam com os custos de produção e mídia, a veiculação era praticamente de graça nas revistas da Editora Abril, de Thomaz Souto Correa e nos jornais, o Estadão de Chico e Roberto Mesquita. Também as emissoras de televisão, a começar a Rede Globo, de Octávio Florisbal, José Luiz Franchini e Willy Haas, e todas de São Paulo, sem exceção, veicularam, gratuitamente, comerciais criados pro bono pela McCann.
Cinco anos depois, o comércio aos domingos foi liberado em São Paulo e em todo Brasil, com benefícios econômicos e sociais incomensuráveis.
Além desse projeto, as parcerias construídas por Altino foram responsáveis por campanhas que deram impulso decisivo à transformação de imagem de São Paulo, além de maior cidade do país no turismo de negócios e eventos profissionais, como um destino cultural, de entretenimento, enfim, em todos os 13 segmentos, que lhe valeram a condição hors concours no prêmio Top Destinos Turísticos, desenvolvido em 2017 pela ADVB, do presidente Latif Abrão Jr., e SKÅL São Paulo. E claro, por causa da atratividade turística das compras todos os dias, inclusive aos domingos.
Aprendi muito com Altino, nos 10 anos em que exerci função executiva na Fundação 25 de Janeiro, onde convivi quase diariamente com ele. 
E tenho certeza, seriam incontáveis os testemunhos pessoais como esse meu, entre colaboradores, clientes e fornecedores, nos 70 anos dedicados por Altino à propaganda, e quase 30, ao turismo.
Mas o legado do Altino, posso afirmar sem medo de errar, não é apenas profissional. Seu exemplo de vida, além de funcionário, chefe e líder empresarial, como marido, pai e avô, cidadão carioca, brasileiro e do mundo, inspirou muita gente. Graças a Altino João de Barros, eu sou uma pessoa melhor!
Dizem que ninguém é insubstituível. Mas Altino, querido amigo e irmão, você vai fazer muita falta!
*Aristides de La Plata Cury é presidente do Skål Internacional São Paulo e vice-presidente do Núcleo de Turismo da ADVB – Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil.

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Aos 92 anos, morreu na madrugada deste domingo, 18/02, Altino João de Barros, um dos profissionais de maior longevidade, em atividade, da publicidade brasileira. Carioca de 1926, fez sua carreira desde o início na McCann Erickson, entrando na empresa aos 18 anos como office-boy. Lá, acabou mudando para a área de mídia, ainda no Rio, onde, mesmo trabalhando na agência, cursou a Universidade do Estado da Guanabara para formar-se em ciências econômicas aos 38 anos. Em 1974, mudou-se para a matriz da McCann, em São Paulo, onde atuou até chegar a VP executivo.
Em 2013, lançou seu livro autobiográfico, “A mídia no Brasil do reclame à era digit@l”, em parceria com a jornalista Nara Damante. Nele há depoimentos de amigos, admiradores e familiares contando a sua história de vida, entre as quais a criação, para a Copa de 1978, do hoje consagrado “Top de 5” da Rede Globo, depois de perceber a oportunidade de comercializar, para seu cliente General Motors, a mera contagem regressiva que as TVs utilizavam para sincronizar com suas afiliadas a entrada no ar de programas em rede nacional.
Altino participou, em muitos casos até da criação, de todas as entidades publicitárias do país, como Grupo de Mídia de São Paulo, o Instituto Verificador de Circulação (IVC), o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e o Conselho Executivo de Normas Padrão (Cenp).

Altino será sepultado às 16:30h deste domingo, no Cemitério do Morumby, em São Paulo. (Por Márcio Ehrlich)

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